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17 de novembro de 2009

Traída pelo Twitter

Seis e meia da manhã de sábado. Sol. Viagem marcada com o prefeito. Toca o telefone. Lágrimas. Desespero. Agonia. Porra nega, fica calma, tudo vai se resolver. Traição. Descoberta. Mensagens no celular. Foda, muito foda.

- Vem pra cá. Eu vou viajar, mas podemos ficar juntas de tardinha e no domingo também. Vem. Juro que não é só o egoísmo de te ver. Venha logo.
- Certo. Snif.

Quando uma mulher se sente ou se sabe traída – ás vezes a diferença nem existe, assim como os fatos concretos, basta sentir -, ela se sente diminuída, rejeitada, um cocô. Aliás, todo traído deve se sentir assim, independente do gênero. Eu cheguei nesse viés porque “eu sei como pisar no coração de uma mulher, eu sei. Já fui mulher, eu sei”. Enfim. A questão é que, sabendo-se traído a primeira reação é culpar o outro, a outra, o bicho, o buraco, que atiçou o seu bibelô, levando-o à traição. Pois sim.

Quando ela me ligou – não vou contar não, gente... – eu fiquei agoniada. Mas eram sete da manhã de sábado e a minha solidariedade estava mais ativa que meu cérebro. Assim, quando ouvi as palavras twitter, traição, mensagens, o babado me soou um tanto estranho, mas, porém, contudo, todavia, uma amiga traída é uma amiga traída e antes da razão, querem o nosso colo.

A pessoa em questão é tão ligada, tão focada, que simplesmente desceu uma cidade antes de chegar em Alagoinhas. É sério. Ela desceu em Catu. A essa altura eu já tinha levantado, comido, escovado os dentes, resolvido o meu dia e caída na cama, programado meu celular para tocar meia hora antes de sua chegada, para que pudesse acordar de fato, na hora certa. Toca o celular. Quinze para às 13h. Ela chegaria às 13h30.

- Caralho, vc já chegou?
- Já.
- Oxente, cê pegou o expresso né?
- Não. Normal mesmo.
- Né possível... sim, então, onde vc ta exatamente?
- Na frente da rodoviária né Isa?
- Certo. Então pega aí um táxi e vem para o Inocop II.
- Como é? Robocop?
- Não porra. Inocop. Pede pra o cara te deixar na rua do Zé Café. Vou te esperar na porta.

Ela chegaria em dez minutos. No máximo. Calculei o time e fui pra porta esperar na calçada. Um sol do cão. Cadê a mulé?

- Véi, cadê vc?
- Em Catu.
- Na rua do Catu? Que porressa rapá?
- Não. Em Catu mesmo.
- Não acredito.
- É sério nega. Desci aqui na rodoviária de Catu. Aí fui pegar o mototaxi e quando pedi ao menino pra me deixar no robocop...
- Inocop.
- Isso. Aí ele ficou me olhando e disse que aqui não tinha esse lugar não. Aí perguntei, oxe, num é Alagoinhas? E ele, não menina, aqui é Catu.
- kkkkkkkkkkkkkkkkkk
- kkkkkkkkkkkkkkkkkk
- Vai mulher, pega um ônibus pra cá, to te esperando.

Ela chegou, nós almoçamos e eu fui viajar com o ômi. Voltei, ela tava dormindo. Que bom, descansou, pensei. Em casa, conversamos sobre outras coisas até chegar no assunto do dia. A traição.

- Isa, eu vi as mensagens.
- Estranho né, não vejo fulano fazendo isso velho...
- Mas ele fez. Eu vi as mensagens pro twitter da menina.
- Olhe só nega, é isso que não to entendendo... Como assim mensagem pro twitter? Porque até onde eu sei a gente só pode mandar mensagem assim, pra nosso próprio twitter saca? Pra atualizar e tal.

Ela ficou pensativa. Não, tinha sido traída, com certeza.

- Isa, ele mandou aquelas mensagens. No dia dos namorados. A gente tinha brigado no mesmo dia.
- Repita aí como eram as mensagens velho...
- Ah, tinha uma que ele dizia ‘tô na praça sentado vendo as crianças brincando. Saudades’.
- Hum...
- E tinha aquela que te falei ‘hoje foi um dia cansativo. Lua cheia. Vou ver o meu amor’
- Nega...
- Não, nem me olhe com essa cara. E tudo se liga. Antes disso tinha uma mensagem dizendo que o show de Targino Godin tinha sido adiado e que ia ser nesse dia, 12 e tal. Ele marcou o encontro e...
- Targino Godim? Filha, pelamordedeus, ele estava atualizando o twitter dele caralho!
- Não..
- Claro que sim criatura...
- Como assim? Ai Isa...
- Como assim que ele estava atualizando o próprio twitter pelo celular né porra? Pense aí. Targino Godim é mensagem romântica? Tudo que vc falou aí minha filha, não tem nada haver com traição...
- Ai meu deus... Eu chorei à toa?
- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
- Sério Isa... E o número que estava lá?
- É o número que ele cadastrou né...

Toca o telefone dela. A irmã. Dizendo que tentou ligar pro número da ‘fulana’, mas não conseguiu nada. Eu só ria ouvindo ela explicar pelo telefone que não tinha como falar com o tal número mesmo, que tinha chorado à toa, que tinha se retado por nada. Traída pelo twitter. Claro que eu tinha de contar aqui né?

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