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22 de outubro de 2009

“Tenho amigos para saber quem sou”

Acabo de perceber que, ou o conceito de amizade mudou, ou eu é que nunca entendi muito bem o que é isso...

Vivemos num mundo superpovoado e, além da família que temos, escolhemos outras pessoas, ao longo de nossas vidas, para caminhar ao nosso lado. Claro que parece piegas. Mas não é. No dia a dia cruzamos com centenas de pessoas e no cumprimento diário, estabelecemos padrões de comportamento, padrões sociais facilmente acessíveis e graças a Jah, passíveis de modificações quando estamos com os nossos, a nossa gente, a nossa gangue, esses que podemos chamar de amigos.

Dentre esses padrões o mais utilizado está na pergunta famigerada: E aí, tudo bem?

Ora... em nossa condição humana, as coisas nunca estão totalmente boas. Graças a isso, inclusive, somos impulsionados a mudar, a melhorar. É a partir de nossas insatisfações que nascem os nossos desejos e é no anseio do desejo que nasce a vontade da conquista. Isso posto, vamos aos fatos: para quais pessoas vc pode ser sincero?

Diante da perguntinha infame de se conosco está tudo bem, respondemos de forma tão medíocre quanto: sim, tudo bem. Mas há o diferencial. Há os AMIGOS.

É para eles que vc responde diferente. É para eles que contamos os porquês de nossos descontentamentos, porque os amigos, eles sim, sabem quem somos, não numa totalidade – como nada nessa vida. Mas eles sabem. E nós somos felizes porque temos a eles, que nos sabem.

Só os amigos escutam nossa voz ao telefone e conhecem seu tom. E nós, amigos, ouvimos tantas lamentações quantas forem possíveis. Perdeu o emprego? Está sem grana? O cachorro morreu? Os amigos estão lá pra amenizar tudo!

Conheço muita gente, uma quantidade quase inacreditável de pessoas para os meus 27 outonos. Gente de lá da infância, gente que ralou comigo nos trabalhos que passei, gente que estudou comigo, gente que encontrei nos pontos, nos shoppings, nas avenidas e nas ruas. Gente que adoro, mas que são conhecidos, conhecidos queridos, mas que não convive, que não divide. Gente que faz parte da minha vida, mas que por uma série de motivos – os mais diferentes possíveis – recebem minha resposta infame: sim, tudo bem!

Já os amigos... ah, meus amigos! Essas pecinhas fundamentais em minha vida. Eles são poucos, apesar de ter quem ache que são muitos! E até que são... Posso contar uns dez deles. Amigos que sabem quem sou, sabem como sou. Amigos que conhecem minha dramaticidade, minha tragédia, minha euforia, minhas esquizofrenias todas. Amigos que dividem comigo as suas idiossincrasias e que está lá quando me disponho a dividir as minhas.

Além disso tudo os amigos são multifuncionais: vão ao bar, à praia ou ficam em casa. E quando estamos juntos, rindo ou chorando... É sempre bom. Porque são os nossos alicerces, são aqueles para quem as respostas nunca são as mesmas dos conhecidos: Porra... Ta tudo mais ou menos...
E o mais interessante na amizade é a capacidade de compreender que o mesmo conselho que você deu hoje pode ser retribuído amanhã! Porque só nós sabemos a dimensão de nossos problemas... E quando estamos imersos neles, não conseguimos enxergar muito bem as saídas. E aqui entram os amigos queridos, que com seu jeito próprio – bem próprio de cada um -, vai nos mostrando os caminhos possíveis. E é tudo muito simples. Basta uma palavrinha, uma conversinha, um colinho... E as lágrimas se transformam em sorrisos, o céu fica claro, tudo fica mais bonito. E no dia seguinte - na semana seguinte, no mês, no ano seguinte – lá está aquele mesmo amigo com um probleminha parecidíssimo com aquele que vc enfrentava e olha lá vc dando a ele os mesmos conselhos, o mesmo colinho?

É assim que funciona. Pra mim e para aqueles que caminham ao meu lado. Aqueles que posso contar e que sabem que podem contar comigo também. Porque somos amigos de rocha e não desdenhamos do que sentimos, por mais bobo que pareça o problema. Nós escutamos o que o outro tem a dizer. Porque no escutar, reside uma sabedoria milenar. Amigo é aquele que sabe escutar, sobretudo.

Pois bem. A indignação posta no início desse texto acontece no momento em que descubro quehá pecinhas fora do lugar... E então bate aquela tristeza... Porque às vezes há verdades que nos saltam sempre aos olhos, mas preferimos não ver. Mas o importante é que há o momento da clareza também. E as vezes é uma claridade que nos cega. As vezes é uma claridade que nos ofusca a vista. Mas o retorno é inevitável e aí, nos despedimos e seguimos com as pecinhas restantes. Tristes, mas conscientes de que “tudo na vida acontece”.

Um comentário:

  1. Oba!!! Me sinto feliz por não ouvir de você sempre que está tudo bem :)) To lendo tudoo... Fiquei visualizando a cena de Juan sentado no banco desenhando o dragão. Você está aqui em Salvador sim, bem pertinho.

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