“Se você quiser ir só um pouquinho mais fundo, poderíamos falar sobre a natureza da própria liberdade. Será que liberdade significa que você tem permissão pra fazer tudo o que quer? Ou poderíamos falar sobre tudo o que limita a sua liberdade. A herança genética de sua família, seu DNA específico, seu metabolismo, as questões quânticas que acontecem num nível subatômico (...). Existem as doenças de sua alma que o inibem e amarram, as influências sociais externas, os hábitos que criaram elos e caminhos sinapticos no seu cérebro. E há os anúncios, as propagandas e os paradigmas. Diante dessa confluência de inibidores multifacetados, o que é de fato a liberdade?”
Um trecho do livro A Cabana. Eu tô lendo, não tô gostando muito, mas... essa passagem é muito boa.
Depois tecemos mais sobre o livro.
26 de março de 2010
Hoje vai ter uma festa. Bolo e guaraná, muito doce pra vc...
Que mentira, que lorota boa!
Hoje teve foi pauta às sete da manhã, inundação no município e uma inflamação no ouvido, pra completar.
Estamos vivenciando um momento muito particular na história da humanidade. Sobretudo em lugares como o Brasil, onde as catástrofes sociais são maiores e mais significativas que os desastres naturais.
Nos últimos dois meses ocorreram pelo menos três grandes terremotos no planeta terra: no Haiti, no Chile e na Turquia. Vulcões entrando em erupção, tsunames devastadores, tremores de terra, ciclones, enchentes, clima desordenado, fome, muitas mortes e destruição.
No âmbito sociocultural, o Brasil, por exemplo, presencia hoje um dos mais concorridos julgamentos de sua história, sobre o caso da menina Isabela, além dos escândalos constantes no Congresso Nacional e a eterna guerra do tráfico.
Os jornais, locais, regionais e nacionais, revezam criteriosamente as notícias. Através dos noticiários de todas as mídias, nos informamos passivos tanto sobre o ovo gigante que anuncia a páscoa, quanto sobre o vulcão que entrou em atividade neste março de 2010 na Islândia.
A sensação que tenho, nítida, é de que caminhamos lentamente para o fim de olhos vendados. E o pior: nós os vendamos sozinhos, por nossa própria conta e risco. É o nosso livre arbítrio sendo exercitado em escala macro, heim?
Obviamente não podemos parar nossas vidas, sentados no “trono de um apartamento com a boca cheia de dentes esperando a morte chegar”. Mas em que sentido nos mobilizamos? Até que ponto ainda podemos dividir a população entre a massa passiva e a elite pensante? Ou será que na escuridão do nosso fingimento diário estamos já irreversivelmente misturados?
A vida segue entre intervalos de pequenos infartos... Você vê?
Enquanto a matéria questiona o momento certo para deixar uma criança ter seu próprio celular, tento enumerar em vão a quantidade de pequenas catástrofes que nos aconteceriam caso houvesse uma pane geral de energia no mundo. Lembram do último apagão? Grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro ficaram sem energia elétrica durante mais de quatro horas. Pequenos infartos...
Como nós, Homo Sapiens Sapiens do século 21, sobreviveríamos tendo destruídas todas as tecnologias? Sem internet, televisão, rádio, luz elétrica? Bancos em pane, trabalhos parados... O início de uma nova era, de novas formas de socialização.
Quem pensa que as redes de internet que ligam o mundo estão devidamente protegidas está redondamente enganado. Tanto quanto aqueles que ainda acreditam que as placas tectônicos da terra têm ainda a mesma formação que há dez, 20 anos atrás.
Perfuramos a terra todos os dias e cada vez mais fundo, retirando dela toda riqueza mineral que consiga ser extraída, principalmente o que muitos apostam ser o seu sangue: o petróleo.
E qual organismo funciona sem corrente sanguínea?
Falamos em multimídias, clones, robótica... Falamos em pré-sal, nos dez mais milionários do mundo e pouco falamos sobre os rumos da humanidade; sobre o fim da configuração de mundo tal qual o conhecemos hoje.
O povo Maia, em suas sete profecias, alertou, há mais de 4 mil anos, sobre o aquecimento global, sobre as constantes enchentes, sobre as explosões cada vez mais poderosas do sol, sobre o alinhamento das galáxias...
Quando olhamos à noite pro céu, vemos estrelas que talvez nem existam mais. Olhamos pros lados e vemos um jogo de narcisos cada vez mais absortos em seus próprios lagos, pontuando o tempo e os sentidos como se lineares fossem.
Eu não sei... Continuo a questionar...
Só sinto que é válido, antes que possamos sentir a terra de fato tremer e rachar aos nossos pés, fechar os olhos por alguns segundos e pedir desculpas a mãe natureza, ainda que já seja tarde demais...
Sabe quando vc sente medo, muito medo de que tudo possa acabar de repente? Sabe quando vc sente que sua idade cronológica não corresponde à sua história? Quando vc sente que alguma coisa muito errada está te acontecendo e vc não sabe por onde começar pra mudar? Quando vc sente que errou nos atalhos e que a estrada que pegou não é a melhor pra vc? Sabe quando vc sente que está chegando o fim? Quando vc se sente impotente porque não consegue racionalizar nada direito?
...
Estou assoprando aos quatro ventos minha vontade de ficar. Pra que não restem dúvidas depois. Mas estou com tanto medo, tanto medo daqueles terríveis, irracionais, imbecis...
É como se eu precisasse de muito mais que 24 horas pra fechar esse ciclo que insiste em findar amanhã.
É como se os 28 anos que completo amanhã estivesse atrasados, como o outono....
23 de março de 2010
"Leve-me daqui Breve Não sei aonde ir Uma ilha, o Japão Longe lá no céu, dentro do avião Beije-me até sarar Forte Só sei que quero desmanchar O nó que fica na garganta O amor que fere também agiganta
Eu quis fugir Baby, daqui Botar o pé na estrada
Leve-me daqui Leve Eu quero me sentir Nas águas do Oceano Atlântico No seco do deserto te abraçar romântico
Love me, quer namorar Corre Zomba de mim pra eu me entregar Língua quente, lava de vulcão Percorre o céu da boca e me tira do chão
É tão difícil pra mim Entender as coisas do coração O amor pode ser bom sim Eu não sei não Eu não sei"
....
Particularmente mesmo?? Eu digo: queria era fugir pra Barcelona. tsc...
Nossas angústias são proporcionais às nossas responsabilidades.
Eu era muito mais feliz quando bebia o iogurte sem saber quanto custava, isso lá pelos idos dos anos 80. Depois, nos 90, comecei a ter noção desse valor, mesmo sem tirar do bolso pra pagar e à medida que os cifrões ganhavam mais lugar em minha vida, menos gostosas ficaram as coisas.
Ou não??
Então... É bom ter responsabilidades. Na verdade, na verdade, o bom mesmo é ser dono do próprio nariz. Mas que agora, agora, eu não me importaria se um moreno, alto e gostoso aparecesse me oferecendo sorvete de graça...
Tudo fora de eixo né? xá pra lá essa conversa sem pé, sem cabeça. Hoje eu tô leminskiando: “minha cabeça anda às tontas como se todas as coisas fossem afinal de contas”.
...
Mas pô, queria o que? Aniversário chegando, fim de mês sem grana, tpm... ai que falta de ânimo pra ser conclusiva meu deussssss!
Em março, quando completo dezembros, há em mim muitas e diversas descobertas. Elas chegam evasivas, desconectadas... e aos poucos vão se concretizando, tomando forma e sentidos.
É sempre assim.
O meu período de “inferno astral” é sempre maiúsculo. Nele me redescubro, me reinicio, me atormento.
Às vésperas de completar meus 28 outonos, esse grande ciclo a se fechar, ando deveras assustada comigo. Amanheço no meio da tarde, povoada de desejos desconhecidos antes do meio dia. Sou várias num mesmo dia. Uma cacetada de isas e lorenas a pirinlimpar em meus ouvidos.
Tem os olhos perdidos, o nariz pontudo, os lábios pequenos... Tem as mãos de um enrugado labiríntico, os cabelos de um banco amarelado, tem as pernas arqueadas, tem os pés.
Quando vejo minha vó, mulher retada de outrora, sentada na cadeira sentindo o tempo se acabar,com seu cabelos escassos, as pernas finas, o corpo definhando, os peitos murchos... Penso em mim mesma com os mesmos 80 anos. Essa menina de cabelos brancos que abraço agora é a mesma que me deu os primeiros banhos e os do meu filho também. A mesma que lutou para criar as três das oito filhas que germinou, as três que vingaram, as três mulheres que geraram mais outras três mulheres, uma delas eu.
De minha vó herdei a força de continuar. Dela apreendi a mania de guardar as coisas, de ter muitas caixas, de costumizar retalhos, de olhar a natureza se sabendo parte dela. Dela herdei as mãos bonitas, o olhar atento, as coxas grossas, as ancas firmes.
Quando vejo minha vó com o olhar perdido, tento me encontrar em seu tempo próprio, em seu espaço... Tento entender como somos ímpares, sendo pares, como somos frágeis, sendo fortes e um monte de vice-versas incalculáveis pro pensar.
Vejo uma imensidão de poesia em minha vó, ainda hoje, ainda assim, com tanta dor. Inexplicável ver nela a saudade por si mesma. Indescritível seu vagar descontinuado, levando pé ante pé, devargazinho, os últimos passos de sua existência.
Ninguém, para mim, jamais será mais significativa do que ela. Nem a minha própria mãe, fruto deste ventre. Porque somos no final todas sementes desta mesma mulher. Estamos todas vivas e saudáveis e sabedoras do mundo graças a esta Vergasta firme.
Lembro de uma vez, pequena, lendo um dos livros da escola, quando encontrei um poeminha, deus sabe de que mãos criado, sobre a borboleta lilita. Ficou o colorido das palavras soltas muito mais do que os versos...
Então hoje, quando vejo minha vó assim sem asas, é desta borboleta que lembro: quietinha em seu casulo, esperando a hora certa de voar.
- Mãe, você ia gostar se eu fosse homosexual? - ... Mas Ju.. Não sou eu que tenho que gostar ou não de suas escolhas né.... - Hum.. Mas eu acho que não sou não. Eu só me apaixono por meninas né? - É...
Já que hoje é o dia da mulher, aqui e acolá; já que insistem em pontuar toda a nossa luta seclória em um único dia; já que esse negócio de afirmação está em voga e, principalmente, já que todo mundo agora quer ser mulher, acha bonitinho e coisa tal, aqui vai a minha homenagem às verdadeiras mulheres, aquelas que sabem que seu brilho não se esvai numa panela nem num tanque. Meus parabéns àquelas mulheres que fazem jornadas duplas, triplas e que sabem que um mundo justo não é um mundo igual e sim aquele onde se respeitam as diferenças, sobretrudo sexuais.
Nesse 8 de março, meu ode à xoxota, esse pedaço feminino tão nosso, pois é da xoxota que nasce o homem. E se não nasce necessariamente dela, é nela que se faz. É da xoxota que se esvai a poética mais humanista. É ela que melhor traduz a anatomia do feminino, côncava, boca que infelizmente tantas vezes come o que não lhe satisfaz.
É da xoxota que sai o líquido espesso que pontua o ciclo do nascimento e do não, transbordando em fúria sanguinária o que não lhe serviu naquele momento. E por essas e outras razões sexuais ou metafóricas, é literal, é literária, é poética, profética, pagã.
Abençoado seja o feminino, transgressor, latente, ininterrupto, pois sem ele, não seríamos; Abençoada seja a xoxota, pois dela nascem todas as possibilidades...
Dia da mulher né? ok.
tsc...
5 de março de 2010
Mais um terremoto estremeceu o Chile nesta madrugada. A previsão é de que os tremores durem mais dois meses. Dois meses de terra tremendo. Dois meses com possibilidades de Tssunamis.